Tremembé : elenco fala sobre o desafio de dar vida a criminosos reais

Baseada nas obras do jornalista Ulisses Campbell, Tremembé se destaca como uma das produções mais fascinantes do cenário audiovisual brasileiro em 2023. A série, disponível no Prime Video, se aprofunda no cotidiano da Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, mais conhecida como Tremembé II, recriando, em um formato ficcional, a convivência de figuras que se tornaram protagonistas de manchetes chocantes no Brasil.

Muito além do sensacionalismo

Embora o ponto de partida da narrativa esteja ancorado em crimes reais, a direção de Vera Egito vai além do sensacionalismo. A série explora as complexas relações, as tensões e as dinâmicas sociais que permeiam a vida dentro da prisão, destacando a luta pela sobrevivência e a interação entre esses indivíduos condenados.

Elenco comenta bastidores e desafios das gravações

Em uma conversa exclusiva, o elenco principal, que inclui nomes como Marina Ruy Barbosa, Letícia Rodrigues, Bianca Comparato, Carol Garcia, Kelner Macêdo, Lucas Oradovschi e Anselmo Vasconcelos, compartilhou suas experiências sobre as controvérsias que cercam a série, o cuidado necessário para retratar tais personagens e o rigoroso processo de preparação para seus papéis desafiadores.

O debate sobre a romantização de criminosos

Produções que se inspiram em crimes reais frequentemente geram debates sobre a possível romantização de seus protagonistas. O elenco de Tremembé não esquivou-se desse assunto delicado. Letícia Rodrigues, que interpreta Sandrão — uma detenta que conviveu com Suzane e Elize — afirma: “Esse é um debate legítimo. Ele vem de uma população que se preocupa, que fica aflita ao consumir certas histórias.”

Responsabilidade e respeito às vítimas

“Mas é importante dizer que Tremembé tem um roteiro baseado em uma investigação jornalística. Tivemos o cuidado e a responsabilidade de não afetar quem já foi afetado por essas histórias. Nosso foco é outro protagonista: o presídio,” acrescenta Letícia.

Marina Ruy Barbosa fala sobre Suzane von Richthofen

Para Marina Ruy Barbosa, que assume o papel de Suzane von Richthofen, a série não tem a intenção de recontar o crime, mas de explorar as consequências. “Muita gente pensou: ‘Por que voltar a falar dessas pessoas?’. Mas Tremembé mostra as relações interpessoais depois das consequências — depois de elas terem sido julgadas e condenadas. É quase um estudo psicológico sobre o que cada uma faz para sobreviver ali dentro,” explica.

Bianca Comparato ressalta o lado humano, não o crime

Bianca Comparato, que dá vida a Anna Carolina Jatobá, enfatiza que a produção não busca justificar atos, mas sim entender o comportamento humano. “Existe algo inerente ao gênero true crime: a curiosidade sobre o lado sombrio. Mas nossa história começa depois do crime. Não há justificativa ou tentativa de humanizar o ato. Há sarcasmo, humor ácido e uma direção muito sensível para não expor vítimas ou glamourizar a violência.”

O desafio de interpretar figuras reais

Os crimes abordados na série estão profundamente enraizados na memória coletiva do Brasil, e encarar esses personagens demandou um mergulho emocional significativo. “Meu maior desafio foi não cair na caricatura,” revela Lucas Oradovschi, que interpreta Alexandre Nardoni. “O caminho mais fácil seria o julgamento. Mas eu precisava encontrar outras camadas além do horror — porque o horror também faz parte da condição humana.”

Elize Matsunaga sob nova perspectiva

A atriz Carol Garcia, que interpreta Elize Matsunaga, completa: “Eu não busquei ‘dar humanidade ao crime’, e sim trazer seres humanos para a cena. *Tremembé* mostra o dia a dia dessas pessoas, e esse convívio é algo que o público nunca viu. A maioria de nós nunca entrou num presídio, então existe essa distância. A série traz isso com força.”

Um marco para o audiovisual brasileiro

Marina também vê o projeto como um marco importante para o audiovisual nacional: “Estamos vivendo um momento de glória. O gênero true crime é muito explorado lá fora, mas aqui ainda é novo. Então poder contar uma história brasileira, com essa qualidade, é um orgulho. É uma história feita aqui, mas que vai pro mundo.”

Preparação intensa e imersiva do elenco

O elenco passou por um extenso processo de preparação, que envolveu aspectos físicos, emocionais e técnicos. “O roteiro é baseado nos livros do Ulisses, mas tivemos um trabalho de corpo e convivência muito forte,” explica Letícia. “Contamos com duas preparadoras de elenco incríveis e um time enorme — mais de 1.500 pessoas envolvidas. Tivemos um preparo físico intenso e também emocional.”

Estudo, empatia e respeito pela realidade

Carol revela que o grupo chegou a se reunir para conversar com especialistas e pessoas que vivenciaram situações semelhantes, buscando um entendimento mais profundo e respeitoso sobre os personagens que estavam prestes a interpretar.